Lembrança,
Lembro-me dos belos dias que passei com o meu Avô Joaquim, e tenho saudades desses tempos. Não por querer ter a mesma idade, pois olhando para trás a passagem dos anos não me deixa angustiado, mas sim pelas saudades daquele Homem, que não sendo instruído, me ensinou mais coisas do que aquelas que alguma pessoa me poderá jamais ensinar.
Não, não estou a falar das coisas dos livros, que essas estamos sempre a aprender, estou sim a falar daquelas que vindo dos livros não ligamos, mas se forem ensinadas por alguém que gostamos atingem um significado superior.
Lembro-me daquelas vezes que fomos colher cogumelos, onde aprendi a distinguir os “bons para comer” dos “maus para comer”.
Lembro-me das lições que tinha sobre a poda, dizia ele:
- Deixa quatro-olhos na vara da videira se esta for robusta, se não deixa só um, para que possa fortalecer.
Lembro-me das lições de marcenaria, onde aprendi a utilizar as ferramentas rudimentares de marceneiro, as plainas, as limas, os formões, do martelo essa maravilhosa ferramenta que permitia juntar dois pedaços de madeira com um prego por forma a não mais se desprenderem, dos encaixes nas tábuas e do meu primeiro banco, ai o meu primeiro banco…
Lembro-me das armadilhas que montávamos para apanhar melros, e depois de depenados os assávamos para o lanche.
Lembro-me dos treinos do “Joca”, para que caçasse coelhos, coitado, era tão desajeitado o “Joca”, mas tão meigo e tão fiel, que te levava a seres paciente para lhe ensinares a “maticar”, a ficar a ir buscar.
Lembro-me dos dias passados debaixo das laranjeiras, simplesmente a olhar para as arvores ou a ouvir o chilrear dos pássaros, aprendendo a distingui-los pelo seu canto.
Lembro-me dos dias que passamos nos aposentos de Baco, onde vi pela primeira vez confeccionar o néctar.
Tem graça, não me consigo lembrar de coisa más, pois aos olhos de uma criança o seu avô é e será sempre um ser perfeito, tanto pela sua sapiência como pela paciência.
Enfim, foram dias de angélica felicidade onde o tempo parecia estar parado, e a Humanidade? Essa caminhava para a felicidade suprema!
Por tudo isso Avô, obrigado por teres sido quem foste.
Telmo & Mariana Pita
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